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Aos Poucos, carros elétricos ganham o mercado no Brasil
Texto: Cleide Silva / Foto: Hannah McKay/Reuters
Vendas de ‘veículos limpos’ ainda são insignificantes, mas vem aumentando o número de modelos em oferta e o interesse de clientes de maior poder aquisitivo
Com apenas 1,4% de participação nas vendas totais deste ano, veículos eletrificados (híbridos e elétricos) começam a aparecer mais no portfólio das montadoras do Brasil e das empresas importadoras. Há mais de 200 opções de modelos em oferta e vários lançamentos estão ocorrendo neste segundo semestre – o mais recente deles o Fiat 500e, o primeiro com tecnologia elétrica da marca, hoje parte do grupo Stellantis.
A previsão de vendas para este ano da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) aumentou de 28 mil para 30 mil unidades. Se confirmada, representará alta de 52% em relação às 19,7 mil unidades vendidas em 2020. O mercado total de automóveis e comerciais leves deve crescer 12%, segundo projeções do setor. “Em 2022, o mercado de eletrificados deve dobrar de tamanho”, prevê Murilo Briganti, sócio da Bright Consulting.
Até julho, foram vendidas 17.524 unidades, sendo 16.602 híbridos e 922 elétricos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em recente estudo sobre descarbonização apresentado pela entidade e pela consultoria BCG, é estimado que em 2035 a participação de carros com tecnologias mais limpas e mais econômicas deve representar de 32% a 62% das vendas, dependendo de cenários avaliados que incluem, por exemplo, a participação de governos na promoção desses veículos.
O empresário Guilherme Juliani, de 41 anos, partiu para seu primeiro carro elétrico há quatro meses, e já decidiu que “nunca mais vai voltar para modelos a combustão”. Seu Nissan Leaf tem autonomia para rodar 250 km com a bateria cheia, e ele adquiriu um carregador que completa a carga em oito horas, normalmente ligado à noite.
Juliani conta que costuma rodar 1 mil km por mês e gastava em média R$ 1 mil a R$ 1,2 mil com gasolina no carro anterior. “Com o elétrico, a conta de energia subiu cerca de R$ 400”, diz. Para viagens longas, porém, ele usa o carro a combustão da esposa, por receio de ficar sem energia na bateria.
Sua opção pelo elétrico ocorreu porque queria testar a tecnologia antes de adotá-la na frota de sua empresa, a transportadora Moove+, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
“Adquirimos um caminhão elétrico da JAC Motors (importado da China) e 70 bicicletas elétricas”, diz o executivo, que pretende ampliar o uso de eletrificados na frota de 4 mil veículos que prestam serviços para a empresa.
Diante das perspectivas de crescimento do mercado, ainda que gradativamente, empresas e startups começam a oferecer infraestrutura e serviços para os elétricos, como postos de recarga de baterias, aplicativos indicando locais de abastecimento, reúso de baterias descartadas e sistemas de carregamento solar das baterias.
Entre as montadoras, apenas Hyundai e Volkswagen não têm, no momento, modelos eletrificados à venda, mas ambas prometem novidades. Essa “corrida” das montadoras também tem a ver com a obrigatoriedade de cumprir metas de eficiência energética que começam a valer em 2022. Cada carro elétrico, por exemplo, conta quatro vezes mais pontos que um a combustão na hora de verificar se os índices estabelecidos no programa Rota 2030 foram atingidos.
A oferta de produtos eletrificados ainda é muito elitista, com preços que variam de R$ 150 mil (JAC JS1 elétrico) a R$ 1,18 milhão (MB AMG GLE 63 S 4Matic+ Coupe híbrido). O modelo elétrico mais vendido no primeiro semestre foi o Porsche Taycan 4S, com 154 unidades, a R$ 910 mil cada.
Incluindo os híbridos, o campeão é o Corolla Cross XRX híbrido-flex, com 3.157 unidades. A Toyota é a única montadora do Brasil que produz automóveis eletrificados. “Pelo menos até 2030 não enxergamos possibilidade de produção local de elétricos”, afirma Briganti.
Mesmo muito caros, os eletrificados têm atraído seu público-alvo. O esportivo Audi RS e-tron GT elétrico, que custa R$ 950 mil, teve todas as 15 unidades colocadas à venda em maio esgotadas em 24 horas.
Em abril, um lote de 300 unidades do XC40 elétrico colocado à venda pela Volvo por R$ 390 mil, se esgotou em 15 dias. A empresa negociou mais 150 unidades com a matriz e quase todas também já foram comercializadas.
Fonte: O Estado de São Paulo
(Sincopetro)